segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sob um pinheiro, em algum lugar do Rio Grande do Sul...



Ninguém mais sabe do dia correto. Ninguém mais sabe o lugar correto. Mas em algum dia, digamos que foi no inverno do ano de 1890, um casal de jovens alemães, regressava de Porto Alegre para Agudo. Eles haviam tentado a sorte em uma cidade maior. Segundo me foi contado por meu pai, ao  pai dele, pelo avô dele - Hermann Dauwe recebeu uma herança de família. Provavelmente parte de sua legítima, em virtude do falecimento de seus pais na Alemanha. Hermann resolveu então, empreender o dinheiro em uma fábrica de cerveja, que se localizaria em Porto Alegre. Ele tratou de arranjar um sócio, e confiou a ele a compra e o pagamento dos equipamentos da cervejaria. Quando os aparelhos estavam instalados e tudo estava pronto para começar a funcionar, chegaram os cobradores, querendo receber as parcelas do maquinário que haviam vendido. Ou seja, o sócio comprou tudo a prazo, embolsou o dinheiro e fugiu para os matos de Santa Catarina. Reza a lenda, que fora morto por índios. Talvez sim, talvez não... Vai saber?
Mas a cervejaria e o dinheiro da herança viraram vapor, e o casal teve que refazer o caminho de volta para Agudo. Um caminho que foi especialmente difícil para eles. Eu ouço esta história desde que era menininha, e depois dela, nunca mais consegui olhar um pinheiro da mesma forma. É porque naquela triste volta de regresso para o interior, despojados de seus bens e suas esperanças, no meio do mato, ainda havia a necessidade de fazer uma nova parada; para mais uma perda. Foi necessário fazer uma longa pausa no percurso. A Bisavó Lisete estava grávida, e era chegada a hora de dar á luz. Longe de qualquer conforto, em meio ao frio e pedras, com a ajuda do marido, nasceu uma menina. Nasceu e logo morreu. Não sei seu nome. Acredito que a tenham feito um batismo de emergência, caso tenha nascido viva. Mas ocorre que ela faleceu. E o percurso de volta para casa, permanecia à frente dos dois. Foi Hermann quem teve que tomar coragem...Com cuidado tirar a menina dos braços da mãe. A mãe esperava por um milagre; aquela situação podia ser um sonho, ou um mal entendido. Mas a menina não estava só dormindo.
Era preciso cumprir o ritual de volta á terra de tudo o que já foi vivo. O bebê precisava de um túmulo. E assim foi feito. Ela foi enterrada em algum lugar do caminho. A menina merecia também uma lápide, uma inscrição do tipo “ aqui jaz...” Mas não havia nada disto por perto. Então, Hermann colheu um pinhão, e plantou sobre o corpinho sepultado de sua filhinha. Esta seria sua lápide, e um sinal. Talvez ele pensasse que assim, um dia poderia tornar a achar a sepultura.
E pelo resto do caminho e da vida, aqueles dois corações sabiam que um pouco deles jaziam sob algum pinheiro do caminho. Ainda hoje, quando viajo à Porto Alegre, lembro-me que em algum lugar, deve haver um grande pinheiro, que guardou a dor de dois pais.

MaeliDa

terça-feira, 3 de maio de 2011

A família cresce...


Este é o retrato de uma familia de agricultores do sul do Brasil. Primeira e segunda geração nascida aqui.
Ainda ouviam da Grossmuther, a saudade da Alemanha, a vontade de voltar para além mar, de rever amigos, pais, parentes. A saudade das frutas de lá, a dor da fome no estômago. Herdaram nos gens, o medo da guerra e o temor que a abundância cessasse. Por isso, construíam grandes despensas, trabalhavam de sol a sol, e ensinavam amor e fé aos filhos. 
Eu pertenço a essa familia, com orgulho!